Quebra espontânea: chegou a hora de desvendá-la!
Quebra espontânea: chegou a hora de desvendá-la!
Apontamos
as principais causas que levam à ruptura do vidro temperado sem explicação
aparente.
O vidro temperado é conhecido por
sua grande resistência (até cinco vezes maior que a do vidro comum), obtida a
partir do tratamento térmico ao qual o vidro é submetido durante o seu processamento.
Essa resistência foi colocada em dúvida por parte da grande mÃdia em agosto de
2014, quando o jornal O Globo publicou uma reportagem apresentando casos em que
o material, instalado em boxes de banheiro, rompeu-se sem causa aparente. Esse
fenômeno, no jargão vidreiro, é conhecido como “quebra espontâneaâ€.
Mas essas quebras realmente podem ser consideradas “espontâneas� Quais
são suas causas? Como evitá-las? Veja a seguir as respostas para essas e outras
perguntas de acordo com Cláudio Lúcio da Silva, instrutor-técnico da
Especialização Técnica Abravidro e considerado um dos maiores especialistas do
Brasil na área de transformação de vidros.
Na fabricação Ainda na indústria de base, são dois os problemas que
podem favorecer a quebra:
Inclusão de sulfureto
de nÃquel (NiS) na massa do vidro — Um grande forno de fabricação de vidro plano pode produzir
de 600 a 900 t de float por dia. Desse total, o número de peças que sofre
quebra posteriormente devido a inclusões de NiS é muito baixo. Apesar disso, sua
eliminação total é extremamente difÃcil (saiba mais na página XX).
Defeitos pontuais e
lineares — Fendas ou bolhas são algumas das imperfeições possÃveis na fabricação
do vidro, segundo a norma NBR NM 294 — Vidro float. Dependendo do seu tamanho,
formato e localização no vidro, esses defeitos podem contribuir para a quebra
da peça posteriormente. No pré-processamento A formação de trincas em
profundidade no corte, destaque, lapidação, furação e em outras atividades de
processamento também pode levar à quebra. Após a têmpera, a área interna do
vidro está em tensão permanente de tração aumentada — com isso, as trincas, já
presentes na peça e que se expandem para seu interior, aumentam a probabilidade
de ruptura posterior.
Algumas causas para seu surgimento incluem: Cortes e destaques
inadequados do vidro;
Erros na especificação de ferramentas abrasivas ou no seu uso;
Erros na lapidação, furação e acabamento das peças;
Lixamento e acabamento do vidro sem uso de água;
Uso de parâmetros técnicos, regulagens e ajustes inadequados de
processo;
Inadequação no uso, manuseio ou métodos na operação de máquinas e
equipamentos.
Cláudio Lúcio ensina ser possÃvel visualizar a ocorrência de trincas ou
microtrincas na peça processada antes de o vidro seguir para a têmpera. Se o defeito
for constatado, o vidro não deve ser temperado.
Na têmpera o processo de têmpera também pode ser um dos causadores ou
contribuir para a suposta quebra espontânea. Erros nessa etapa incluem:
Condução inadequada do processo geral e da montagem da carga;
Falhas no perfil térmico (responsável pelo monitoramento da temperatura
do forno);
Peças enviadas da têmpera para a expedição quando ainda estão quentes;
Temperatura da massa do vidro abaixo de 620 ºC ou acima de 640 ºC ao
sair do aquecimento para o resfriador. No armazenamento e transporte Nas áreas
de armazenamento da processadora ou da vidraçaria, no veÃculo de transporte ou
na própria obra, diversos erros devem ser evitados para não afetar a
integridade estrutural do temperado. Vejam-se: Armazenamento do vidro encostado
na parede;
Colocação de vidro com vidro, sem o uso de intercalários adequados;
Disposição das peças em posição horizontal no armazenamento ou no
transporte;
Transporte do vidro sem proteção (como cobertura de lona). Na instalação
Alguns dos problemas nessa etapa são: Bater, lascar, riscar e arranhar durante
o manuseio do vidro;
Contato direto do vidro com alvenaria ou ferragens, sem aplicação de
materiais flexÃveis adequados (como borracha, plástico ou cortiça) entre eles;
Especificação e montagens inadequadas de sistemas e ferragens;
Instalação das peças com pouca folga, não considerando a dilatação que
elas podem sofrer com variações térmicas.
Atenção! O NiS não é o maior responsável pelas quebras! A presença de
NiS no vidro durante sua fabricação é frequentemente apontada como a única
causa de quebras ditas espontâneas. No entanto, para Cláudio Lúcio, isso está
longe de ser verdade. “As rupturas causadas por NiS são relativamente raras, em
comparação a problemas gerados do processamento à instalação dos vidros que
também podem causá-las.†A visualização do NiS é muito difÃcil, pois o tamanho
das inclusões costuma ser de poucos micrômetros (mil micrômetros equivalem a 1
mm). Porém, Cláudio Lúcio destaca a existência do ensaio de imersão ao calor (Heat
Soak Test — HST), teste desenvolvido para a quebra de vidros com inclusões de
NiS: nele, os temperados são submetidos a temperaturas entre 280 e 300 ºC por
algumas horas. Mais de 90% dos vidros com NiS se fraturam nesse processo. Ainda
não existe um método que garanta 100% de eliminação de vidros com NiS. Mitos e
verdades Mesmo com o risco de quebra, o vidro temperado é seguro? Sim. Segundo
estimativas da Abravidro, apenas em 2013, 1,5 milhão de boxes de banheiro foram
instalados com temperados. Destes, apenas 0,05% tiveram quebra com algum
ferimento ao usuário. Para diminuir ainda mais essa porcentagem, a associação
deu inÃcio este ano ao programa De olho no boxe, para orientar instaladores e
usuários sobre os cuidados a serem tomados de acordo com a norma NBR 14207 —
Boxes de banheiro fabricados com vidro de segurança.
Se a borda do vidro temperado ficar lascada, posso lixá-la para reparar
sua aparência? Não.
A norma NBR 14698 — Vidro temperado estabelece que, após ser submetido
ao processo de têmpera, o vidro não pode ser cortado, serrado, perfurado ou ter
sua borda retrabalhada. É possÃvel identificar a causa da quebra espontânea de
um vidro temperado? Embora seja difÃcil observar problemas surgidos na
fabricação do vidro sem instrumentos e ensaios adequados, causas posteriores,
como erros de instalação ou mau uso da peça, podem ser observadas. Se os
fragmentos do vidro são grandes, alongados e cortantes, por exemplo, houve
falha no processo de têmpera. Os fragmentos devem ser avaliados conforme as indicações
da norma NBR 14698 — Vidro temperado. Como variações de temperatura podem
causar a quebra do temperado? Toda vez que a peça de vidro tem uma diferença de
temperatura entre suas superfÃcies ou delas em relação ao seu centro, uma
movimentação acontece no seu arranjo molecular. Isso faz com que o vidro se
torça ou deforme em direção ao ponto mais quente. Dependendo dos defeitos que o
vidro já apresenta e das condições ambientais, essa tensão pode aumentar a
probabilidade de ruptura, mais frequente em peças de grandes dimensões ou com
espessuras maiores. Por que o temperado nem sempre quebra logo ao sofrer o
dano? Nem sempre a causa da aparente quebra espontânea é suficientemente forte
para levar à ruptura imediata do vidro. Porém, o defeito leva ao desequilÃbrio
de sua estrutura molecular interna. Conforme o vidro temperado é exposto a
esforços mecânicos, térmicos e ambientais em sua instalação, microfissuras
internas podem surgir ou crescer — e, se as condições crÃticas forem
ultrapassadas, podem levar à quebra mesmo horas, dias ou anos após adquirir o
defeito que a causou. Fale com eles! Abravidro — www.abravidro.org.br
Leia mais sobre o assunto em http://abravidro.org.br/quebra-espontanea-chegou-a-hora-de-desvenda-la/ - Todos
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